Em uma entrevista ao Canal Gov, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, abordou a polêmica decisão do Ibama de conceder à Petrobras a licença para pesquisa de petróleo na bacia da Foz do Amazonas. A ministra defendeu firmemente a integridade técnica do processo, ao mesmo tempo em que reconheceu a complexa contradição política que a decisão representa para um governo que se projeta como líder na agenda climática global.
A Defesa da Decisão Técnica
Marina Silva negou veementemente que a autorização para a perfuração de poços no bloco FZA-M-59, na Margem Equatorial, tenha sido resultado de pressão política. “A decisão dos nossos servidores do Ibama foi uma decisão técnica. E, se houve qualquer manifestação política, isso não influenciou o trabalho de qualidade que foi feito pelos nossos técnicos”, declarou a ministra.
Para comprovar o rigor do órgão ambiental, ela citou uma das exigências impostas à Petrobras: a criação de uma nova base de suporte para resgate de fauna oleada a apenas 160 km da área de prospecção. O projeto inicial da estatal previa que essa base ficasse em Belém, a 800 km de distância, um tempo de transporte que, segundo o Ibama, tornaria o salvamento de animais inviável. “Ou seja, todas as exigências que o Ibama fez foram para dar segurança ao processo”, concluiu Marina. A ministra também fez questão de esclarecer que a licença concedida é para a fase de prospecção — ou seja, para verificar se há petróleo em quantidade e qualidade comercializáveis — e não para a exploração em larga escala.
Reconhecendo a Contradição
Apesar da defesa enfática do processo técnico, a ministra não se esquivou da dimensão política da questão. Com o Brasil se preparando para sediar a COP30 em Belém, a autorização para pesquisar petróleo na Amazônia gerou críticas de ambientalistas. Marina reconheceu a validade desse debate. “Existe a contradição que as pessoas levantam e com justa razão. A sociedade está debatendo não só com o Brasil, mas no mundo inteiro. Precisamos sair da dependência do uso de combustível fóssil”, admitiu.
Ela contextualizou a decisão dentro do desafio global de planejar uma transição energética que seja “justa”, permitindo que todos os países possam se adaptar sem comprometer seu desenvolvimento.
A entrevista de Marina Silva expõe a complexa realidade de sua posição. Ela não atua mais como uma ativista, mas como uma ministra de Estado, vinculada aos processos legais e burocráticos. Sua fala revela a profunda tensão que existe dentro do governo Lula entre a ambiciosa agenda ambiental e os interesses desenvolvimentistas representados pela Petrobras. A defesa de uma decisão tecnicamente correta, mesmo que politicamente contraditória, ilustra o pragmatismo necessário para governar. Este caso encapsula o maior desafio da atual administração: como equilibrar o discurso de liderança climática global com as pressões econômicas e a inércia institucional que ainda favorecem a exploração de combustíveis fósseis.



