O agronegócio brasileiro, tradicional reduto bolsonarista, enfrenta sua mais profunda divisão desde 2018. A combinação de uma quebra parcial de safra, queda nos preços internacionais de grãos e o aumento da dependência das exportações para a China transformou o setor em um campo de disputas entre pragmatismo e ideologia.
Durante o governo Lula, a relação diplomática com Pequim se consolidou. A China responde por 36% de todas as exportações agrícolas brasileiras, com destaque para soja, milho e carne bovina. Paralelamente, os Estados Unidos, sob administração democrata, reduziram a compra de proteína brasileira em função de barreiras ambientais.
O chamado “agro de resultados”, liderado por cooperativas do Centro-Oeste, tem adotado postura mais pragmática. Esses grupos apoiam a continuidade da política de crédito rural e infraestrutura promovida pelo governo federal, priorizando estabilidade comercial em detrimento da retórica ideológica.
Por outro lado, o “agro ideológico” — formado por associações e produtores que ascenderam durante o bolsonarismo — mantém forte oposição ao governo. Esse grupo sustenta campanhas contra o Ministério do Meio Ambiente, o IBAMA e a retomada de políticas de demarcação de terras indígenas.
A fragmentação é visível também nas entidades de classe. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) tenta preservar neutralidade institucional, mas internamente enfrenta pressão para apoiar um candidato abertamente de direita em 2026.
Com o mercado internacional priorizando compromissos de sustentabilidade, especialistas apontam que a retórica antiambiental perdeu eficácia econômica. A tendência é que o agronegócio caminhe, ainda que de forma silenciosa, para um reposicionamento mais técnico e menos ideológico até 2026.