A operação no Rio deixou claro algo que muita gente ainda não entende — especialmente quem vive fora da cidade. Existe um abismo entre dois Rios: o das coberturas com vista para o mar, e o das vielas que descem a serra.
De um lado, há quem assista aos confrontos como se fossem cenas de um documentário distante — discutindo “excessos” e “direitos humanos” entre cafés e posts no Instagram.
Do outro, há quem sai de casa todo dia sem saber se volta vivo.
A última grande ação policial deixou 121 mortos. Nenhuma vítima civil. Todos os alvos, segundo os relatórios, tinham ligação direta ou indireta com o tráfico.
Mas o que mais chamou atenção não foram os números — foi o apoio popular.
Mais de 80% dos moradores das favelas aprovaram a operação.
Quando saímos das comunidades, essa porcentagem cai para cerca de 60%. Ainda é alto, mas revela algo importante:
Quem não vive o terror diário não entende o que é estar sob domínio do crime.
Enquanto o trabalhador da Zona Norte ou Zona Oeste enfrenta ônibus lotado, toque de recolher e o medo constante de bala perdida, há quem na Zona Sul apenas se incomode quando o trânsito fecha ou o helicóptero sobrevoa a praia.
Para muitos que vivem confortavelmente, o crime virou uma pauta teórica — um debate sobre “opressão” ou “injustiça”.
Mas para quem mora na favela, o crime é o vizinho armado que decide se você abre o bar, vai à escola, ou simplesmente sai de casa. É fácil simpatizar com o crime quando nunca se perdeu uma pessoa próxima por causa do crime, como aconteceu com a família de Bárbara Elisa Yabeta Borges, morta dia 01/11/25, por uma bala perdida.
A operação escancarou isso: o povo que mais sofre é o que mais apoia o combate ao crime.
Não porque confia na polícia — mas porque não aguenta mais viver sem Estado, sem lei e sem paz.
O Rio de Janeiro tem dois rostos.
Um que romantiza o bandido de longe enquanto vive a vida boêmia e o conforto da zona sul.
E outro que acorda às 5h, reza para voltar vivo, e aplaude quando o fuzil some da esquina.Entre o Leblon e o Alemão, há uma linha invisível — feita de medo, descaso e indiferença — que separa quem debate a violência, e quem sobrevive a ela.